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quinta-feira, 5 de janeiro de 2012

Novo líder norte-coreano vê necessidade de provar seu valor


Kim Jong-il, o cinéfilo que dirigiu centenas de filmes, teve o final feliz com que sempre sonhou. A acreditarmos no roteiro oficial, ele pereceu de exaustão enquanto labutava incansavelmente a serviço do povo norte-coreano.

Seus pesadelos eram bem mais sombrios que isso. Certa vez Kim Jong-il confessou a Chung Ju-yung, o fundador da Hyundai, seu temor de que seu próprio povo pudesse unir-se aos americanos e sul-coreanos, matando-o por apedrejamento.

Kim, pai, escapou desse final sangrento, mas Kim Jong-un, seu filho e sucessor, deve preocupar-se, sem saber se terá a mesma sorte.

Nas últimas semanas, Seul e Pyongyang vêm se esforçando para enfatizar que suas políticas mútuas não vão mudar após a morte de Kim Jong-il. Mas seu discurso não disfarça a incerteza que cerca a segurança da península.

O presidente sul-coreano, Lee Myung-bak, aproveitou seu discurso de Ano Novo para reiterar uma oferta de longa data: disse que a Coreia do Norte ainda dispõe de uma "janela de oportunidade" para estreitar os laços com a Coreia do Sul, além de US$40 bilhões em investimentos infraestruturais se desmontar seu programa de armas nucleares.

A Coreia do Norte ingressou no clube nuclear fazendo um teste atômico em 2006, e as probabilidades de aceitar a oferta nunca foram menores.

O país precisa da bomba, seu trunfo principal para ter relevância internacional, para reforçar a posição de seu líder novo e inexperiente.

É possível, de fato, que Kim Jong-un tenha que detonar outra ogiva em pouco tempo para mostrar que a Coreia do Norte já domina o enriquecimento de urânio, além da produção de plutônio.

O país se esforça para apresentar uma ilusão de continuidade. No funeral de Kim Jong-il, na semana passada, o novo líder estava ladeado por alguns dos principais assessores de seu pai. Mais tarde, para o caso de não termos compreendido essa coreografia, Pyongyang anunciou que "políticos tolos" de todo o mundo devem entender que suas políticas não irão mudar.

Por trás desse discurso, porém, é impossível fazer de conta que nada mudou. Kim Jong-un foi elevado repentinamente à condição de líder quando ainda está na casa dos 20 anos; ele não vai exercer o poder absoluto que tiveram seu pai e seu avô.

Ao invés disso, vai chefiar um governo confuso exercido por uma junta, no qual generais rivais vão disputar a possibilidade de controlá-lo.

Kim Jong-il era capaz de assustar as pessoas que o cercavam. Mesmo Chang Sung-taek, tio e mentor de Kim Jong-un, desapareceu para passar um período de "reeducação".

Kim Jong-un não terá o mesmo poder para castigar Chang ou membros dos altos escalões do governo de seu pai.

Jong-un passou sua infância em uma bolha fantástica de palácios, brincando em tobogãs de água e caçando focas em mini-zoológicos.

É provável que tenha pouca ideia de como são a vida e a morte reais nas províncias de seu país. Também é provável que dependa do julgamento político de amigos de seu pai.

Mas a ameaça maior está em sua necessidade de provar seu valor. A Coreia do Norte prometeu que este ano passará pelo "portal de uma nação poderosa e próspera".

"Próspera" é uma impossibilidade. Um quarto da população está passando fome. A abertura das portas a investimentos estrangeiros, mesmo que fossem da China, poderia desencadear transformações sociais desestabilizadoras.

Os Kim sempre sufocaram a dissensão prontamente. Quando ocorrem protestos alarmantes, como os protestos pelas reformas monetárias fracassadas em 2009, as comunidades não conseguem coordenar manifestações de dissensão entre diferentes cidades isoladas.

Mas ficará mais difícil manter a tampa fechada sobre esse caldeirão fervilhante de insatisfação, especialmente na medida em que mais norte-coreanos adquirirem telefones celulares.

O aparelho de propaganda política ainda consegue suscitar fervor entre os cidadãos comuns mais bem alimentados de Pyongyang, mas é impossível avaliar a lealdade das elites.

Visitantes recentes à capital observam que essa hierarquia misteriosa vem se manifestando mais abertamente, tendo articulado heresias antes impensáveis como: "Quando tudo isso desabar, vocês nos ajudarão?"

Confrontado com esses resmungos de descontentamento, Kim Jong-un precisa se concentrar em tornar seu país mais "poderoso", e é nisso que se esconde o maior perigo.

O "Comandante Supremo" terá que provar que é capaz de conquistar vitórias que condigam com a doutrina militarista do Estado, e ele tem consciência disso, tanto que a primeira visita importante que fez como líder foi a uma divisão de tanques.

Enquanto Kim Jong-un chora a morte de seu pai, o medo deve estar misturado à tristeza.

A China e os EUA podem tentar acalmá-lo com negociações e ajuda alimentar. Basicamente, porém, esses países precisam fazer um planejamento para um possível final beligerante, cientes de que esse líder jovem, encurralado e inexperiente certamente sente que precisa lutar por sua própria sobrevivência e a de seu país.

Fonte: Financial Times

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