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domingo, 15 de janeiro de 2012

Doações de órgãos em Rio Preto salvam 192 vidas no Estado

No próximo dia 25 de janeiro, a aposentada Ana Paula Mantezi Kapp Poli, 49 anos, moradora de Taquaritinga, comemora o 1ª aniversário com novo coração. Ela teve expectativa de vida renovada após 32 anos de luta contra a doença de Chagas. Ana Paula é uma das 192 pessoas moradoras do Estado de São Paulo que foram salvas ou tiveram qualidade de vida melhorada graças ao trabalho da equipe de captação de órgãos do Hospital de Base (HB) nos últimos três anos.

Nesse período, a retirada de múltiplos órgãos foi realizada em 66 doadores. No total, foram captados 264 órgãos, mas apenas 192 estavam aptos para transplante. Do total, foram transplantados 17 corações, 62 fígados, 107 rins e 6 pâncreas. Com o coração novo, a aposentada viu sua vida se transformar depois que foi informada de que tinha uma doadora compatível em Rio Preto, uma mulher de 43 anos vítima de AVC. O sentimento de esperança que mantinha na fila do transplante se transformou em realidade.

Graças ao transplante bem-sucedido, ela pode ver o nascimento de sua segunda neta, que veio ao mundo em julho do ano passado. Também voltou a andar, conversar e fazer os serviços de casa, coisas que ela foi privada de fazer devido à fraqueza no corpo. “Os médicos falaram que sem o transplante eu não veria nem o coelho da Páscoa. Mas graças a uma boa alma que doou esse coração, pude ver muito mais que isso. Acho a doação o gesto mais lindo do mundo. É a oportunidade para você ser mais humano.”

Banco de Imagem
Ana Paula Mantezi Kapp Poli, de Taquaritinga, recebeu um novo coração no HB em janeiro de 2011


O coração é o órgão mais complexo a ser transplantado e com a menor durabilidade fora do corpo, cerca de quatro horas. Por isso existe dificuldade maior para realizar o procedimento e normalmente ele é transplantado no mesmo município no qual é captado. “O coração tem aproveitamento de menos de 10%, porque além de identificarmos a compatibilidade, tem a questão logística. O doador pode estar longe do receptor. Já em órgãos com maior durabilidade, como o fígado, o índice sobe para 70%”, diz o médico Luiz Augusto Pereira, chefe da Central de Transplantes de São Paulo.

O número de captações pode ser ainda maior caso ocorra a diminuição na taxa de famílias que rejeitam a doação, que gira em torno de 30%, e melhoria na identificação de potenciais doadores em outros hospitais de Rio Preto e região. De acordo com o médico João Fernando Pícolo, coordenador do serviço de procura de órgãos e tecidos (Spot) do HB, algumas famílias ainda são resistentes à doação pelo medo de deformidade do corpo, o que não ocorre, segundo o médico.

Outro empecilho é a demora para o processo de retirada dos órgãos, que chega a 12 horas. “Primeiro é preciso que a Central de Transplantes defina para onde vão e isso demanda cerca de 4 horas. Só depois vem a retirada. Algumas famílias querem enterrar o corpo rápido e chegam até a cancelar a doação mesmo depois de autorizarem por escrito, como ocorreu em Catanduva”, afirma Pícolo.

A família do estudante Igor Saes, 21 anos, que morreu em um acidente de carro na madrugada do último feriado de Finados, na avenida Bady Bassitt, em Rio Preto, resolveu ajudar outras pessoas e doou todos os órgãos dele. Devido ao gesto nobre dos familiares, três vidas foram salvas graças à doação do fígado e dos rins. Mesmo tendo de esperar nove horas pela liberação do corpo do filho, a economista Selma Faria Saes, 48 anos, diz que foi o melhor a ser feito. “Agimos com a razão e respeitamos a vontade dele, que nos disse uma vez que queria doar”, afirma.

Guilherme Baffi
Família Saes optou por doar todos os órgãos do estudante Igor
Busca de doadores ainda é falha

Desde a criação da Central de Transplantes do Estado, em 1998, foi delegada a dez hospitais paulistas, entre eles o Hospital de Base de Rio Preto, a função de buscar e identificar os órgãos e doadores. A Central, por sua vez, distribui para os receptores compatíveis. Apesar de a equipe do HB ministrar cursos em hospitais de Rio Preto e região, o serviço de identificação de doadores é falho.

Em hospitais conceituados de Rio Preto, como Austa, Beneficiencia Portuguesa e Santa Casa, nenhuma captação foi feita. “Isso dá uma idéia de que só gente pobre pode doar órgãos, mas não é isso o que acontece. Na rede particular também morre muita gente que pode ser doador. Porém, faltam equipes para fazer essa identificação”, afirma o responsável pelo setor de captação de órgãos do Hospital de Base.

O Ielar e Santa Casa de Jales tiveram sua primeira captação no ano passado com apoio do HB, mas, segundo Pícolo, esses dois e outros hospitais da região que receberam um curso de orientação no primeiro semestre de 2011 fizeram a notificação de doadores apenas nos primeiros meses após o curso. No ano passado, dos 22 doadores de múltiplos órgãos, 14 foram no HB, quatro no hospital Padre Albino, um no hospital São Domingos, ambos em Catanduva. Também foi feita uma captação no Ielar, Santa Casa de Jales e Birigui.

Para o Chefe da Central de Transplantes, Luiz Augusto Pereira, falta atividade de recurso humano nos hospitais do interior. “Temos de conscientizar os médicos e treinar enfermeiras, mas nada disso funciona se o hospital não tiver equipe só para localizar doadores. Além de fazer o diagnóstico, eles precisam dar manutenção adequada para que os órgãos continuem viáveis ao transplante. Se o coração para de bater, todos os órgãos são perdidos.”

Pereira acredita que essa falha possa ser amenizada com frequentes visitas da equipe do HB a hospitais menores. “A Santa Casa de São Paulo faz visitas diárias a uma série de hospitais e isso deu resultado. Doador tem em todo e qualquer lugar”, diz.

Hamilton Pavam
Joaquim da Costa dos Santos, de Franca, recebeu um rim no HB
Em três anos, HB ‘importou’ 200 órgãos

Dos 256 transplantes realizados pelo Hospital de Base (HB) de Rio Preto nos últimos três anos, 200 órgãos vieram de outros municípios. Isso mostra que neste período o hospital mais recebeu do que enviou órgãos. Dos 192 retirados no hospital que foram aproveitados, 136 deles foram para fora da cidade.

O coração foi o único órgão em que todos os dez aproveitados – dois em 2011 e oito em 2010 - foram transplantados no próprio HB. Os órgãos mais recebidos foram os rins (101) e fígados (37). O aposentado Joaquim da Costa dos Santos, 43 anos, morador de Franca, foi um dos beneficiados pela distribuição de órgãos feita pela Central de Transplantes de São Paulo. Ele recebeu no HB um rim que foi retirado em Botucatu de um doador de 36 anos.

Há dez anos, Santos sofre de hipertensão e por conta disso teve problemas nos rins. A doença fez com que parasse de trabalhar. “A rotina de hospitais era complicada e tinha muita fraqueza também”. O aposentado encarava três vezes por semana o aparelho de hemodiálise durante quatro horas. O transplante foi feito no último domingo. “Antes nunca tinha ouvido falar em transplantes, mas quando tive esse problema conheci o nobre gesto da doação”, afirma.

Método

Quando um potencial doador é identificado, a Central analisa no sistema quem pode receber o órgão e entra em contato com o hospital do receptor para saber se ele está apto a passar pela cirurgia. “A informação do doador vai para a Central, que gera a lista de espera por características de doador e receptor.

O paciente mais parecido pode estar longe ou perto. Se de um lado o hospital obtém os órgãos para todo o Estado, de outro a equipe também recebe todo o Estado de SP”, explica Luiz Augusto Pereira, chefe da Central de Transplantes. Para o médico João Fernando Pícolo, coordenador do serviço de procura de órgãos e tecidos (Spot) do Hospital de Base, a Central é importante porque na maioria das vezes o órgão coletado aqui não tem um receptor adequado.

Hospital coleta média de 11 córneas por mês

Enquanto o Hospital de Base recebeu 200 órgãos nos últimos três anos, nesse mesmo período coletou 360 córneas em Rio Preto e região, uma média de 11 a cada mês. No município não existe fila para o transplante de córnea, portanto a maioria das córneas vai para outras regiões. Assim como os órgãos, a maioria é feita no HB, porém outros hospitais da região tiveram parcela significativa neste número. No hospital Padre Albino, em Catanduva, foram 38 captações entre 2009 e 2011, enquanto no Ielar foram 7. As Unidades de Pronto-Atendimento também tiveram participação nas coletas, foram 13 no total.

De acordo com João Fernando Pícolo, coordenador do serviço de procura de órgãos do HB, qualquer pessoa que morre pode ser uma doadora de córnea, desde que não tenham doenças que prejudicam a visão. “Esse é outro número que poderia ser maior caso outros hospitais focassem a questão da doação, assim como precisam fazer como outros órgãos”, disse o médico.

‘Quero conhecer os receptores’

Passados seis meses da doação de todos os órgãos da irmã Aparecida Lucia de Castro, 50 anos, o pintor Roberto Castro, 45 anos, diz que em curiosidade em saber quem foi beneficiado com a ação da família. “É uma vontade que tenho de saber quem foi ajudado e como está. É um pedaço de minha irmã que está em cada um.”

Aparecida morreu no dia 26 de junho do ano passado no Ielar, depois de ter uma parada cardíaca em casa. “Tomamos a atitude da doação sem que ela tivesse manifestado interesse, mas tenho certeza que ela ficou feliz por ajudar outras pessoas”, disse.

Foram captados da paciente dois rins, duas córneas e o fígado. Essa foi a primeira captação de órgãos da história da instituição, que está cadastrada há um ano e seis meses para fazer esse tipo de procedimento e já havia feito outras quatro tentativas em potenciais doadores, porém em todas elas os familiares não autorizaram.

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