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sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Disputa com Irã pode complicar reeleição de Obama

O crescente confronto dos Estados Unidos com o Irã representa uma nova ameaça política para o presidente Barack Obama, que está se preparando para sua campanha de reeleição e pode ter de enfrentar escolhas que poderiam prejudicar tanto a recuperação da economia americana quanto sua imagem como líder.

As sanções contra a exportação de petróleo iraniano que o presidente assinou na véspera do Ano Novo estão em andamento. No final de junho, quando sua campanha estiver no auge, Obama terá de decidir se irá tomar medidas contra alguns países, incluindo alguns aliados fiéis, caso eles continuem comprando petróleo do Irã.



Depois de um lobby feroz realizado pela Casa Branca, que se opôs à inflexibilidade nas sanções que têm sido sua principal ferramenta para pressionar o Teerã, o Congresso concordou em modificar a legislação para dar margem de manobra para que Obama possa atrasar a ação caso conclua que elas possam vir a perturbar o mercado de petróleo. Ele também pode isentar qualquer país das sanções baseadas em questões de segurança nacional.

Mas usar uma dessas saídas pode fazer com que o presidente pareça fraco contra o Irã, que é visto pelas potências ocidentais como um país determinado a possuir armas nucleares e que atraiu uma reação rigorosa por parte da Europa também. Candidatos republicanos, liderados por Mitt Romney, que ameaçou usar a ação militar para impedir Teerã de construir uma bomba, criticaram Obama por não fazer o suficiente para tentar impedir o país de entrar para o clube nuclear.

"Se nós reelegermos Barack Obama, o Irã irá construir uma arma nuclear", declarou Romney na Carolina do Sul em novembro. "E se nós elegermos Mitt Romney, eles não terão uma arma nuclear."

Poucos dentro do governo conseguem imaginar uma maneira infalível de impedir o Irã de desenvolver armas nucleares, embora ninguém queira discutir uma maneira de lidar com a contenção de um Irã com poder nuclear.

O governo está profundamente relutante quanto a qualquer tipo de ação militar - os Estados Unidos negaram envolvimento no recente assassinato de um cientista nuclear iraniano. Em vez disso, o país tem se concentrado principalmente em fazer pressão econômica para que o Irã pague um alto preço para expandir os seus esforços nucleares apesar das sanções internacionais.

"Seria muito difícil para o governo parecer que está recuando, enquanto os iranianos estão avançando desordenadamente com o seu programa nuclear, particularmente em um ano de eleições", disse Stuart E. Eizenstat, um ex-oficial do Departamento de Tesouro dos Estados Unidos que ajudou a criar as sanções contra o Irã durante o governo de Clinton.

"Por outro lado", disse ele, "as sanções poderiam prejudicar a economia e sua chance de ser reeleito. É um conjunto de escolhas terrivelmente difícil, mas que ele terá que tomar mais cedo ou mais tarde. "

O senador Mark Steven Kirk, republicano de Illinois que patrocinou o projeto da lei de sanções juntamente com o senador Robert Menendez, democrata de Nova Jersey, acrescentou uma outra variável aos difíceis cálculos do presidente, argumentando que as sanções podem ser a única coisa que impede Israel de realizar um ataque militar preventivo a instalações nucleares iranianas.

"A primeira isenção das sanções provocaria uma série de outras isenções que potencialmente acabarão com a lei", disse ele. "Quanto mais você mexe na legislação, aumenta a probabilidade de uma ação militar por parte de Israel. A comunidade pró-Israel não quer que as sanções sejam cortadas."

O governo afirma que pretende implementar as sanções rigorosamente, e que as modificações que negociou com o Congresso permitirão que Obama as implemente sem mexer com o mercado de petróleo.

É previsto que a União Europeia imponha suas próprias sanções sobre as exportações de petróleo do Irã na próxima semana, facilitando que os Estados Unidos cumpram com as medidas tomadas.

Oficiais do governo apontam para alguns sinais encorajadores: os maiores importadores do petróleo iraniano, como o Japão e a Coreia do Sul, estão à procura de fornecedores alternativos. E a moeda do Irã, o rial, têm despencado desde que as sanções foram assinadas, aumentando a pressão econômica sobre o regime.

Referindo-se às tensas negociações com o Congresso, um oficial sênior do Departamento do Tesouro disse: "Foi uma questão de tática e de tempo, não necessariamente de alvo."

Com o fim da guerra no Iraque e o assassinato de Osama bin Laden e de outros líderes da Al-Qaeda, Obama tem passado um ar de competência em relação à segurança nacional, e ele sem dúvida está menos vulnerável nessa área do que outros presidentes democratas que governaram antes dele.

Mas tentar mexer no mercado mundial de petróleo é um tipo de desafio diferente, dizem os especialistas. Os líderes do Irã já realizaram manobras para tentar elevar os preços do produto, seja para sinalizar que as sanções podem causar repercussões ou para atenuar os efeitos da redução das vendas. Ao ameaçar fechar o Estreito de Ormuz, através do qual um quinto do petróleo do mundo é transportado, eles fizeram com que os preços aumentassem exponencialmente no início deste mês.

"O petróleo tem que ser substituído com mais petróleo", disse Daniel Yergin, um especialista em petróleo que escreveu o livro "The Quest" sobre a segurança dos combustíveis. Cortar um dos principais exportadores de petróleo do mundo sem mexer com o fluxo global de petróleo é uma tarefa extremamente complexa, disse ele. "Estou tentando pensar em um precedente para isso", acrescentou.

Mesmo com os recentes sinais de recuperação do mercado de trabalho, existe também o problema da economia instável. Uma crise do petróleo é um daqueles choques, como foi o colapso do euro, que poderia comprometer a recuperação. O medo de que o preço do petróleo suba levou a Casa Branca a se opor aos esforços feitos no Capitólio para impor sanções draconianas contra o Banco Central do Irã.

O secretário do Tesouro Timothy F. Geithner, em uma carta enviada no mês passado para o presidente do Comitê de Serviços Armados do Senado, Carl Levin, democrata de Michigan, disse que a repressão total do Banco Central poderia prejudicar a "cuidadosa" abordagem do governo e possibilitar um "benefício econômico para o regime iraniano".

Mas o governo se viu em meio a um caso extraordinário de bipartidarismo. As sanções foram aprovadas pelo Senado por unanimidade, algo inédito especialmente na atmosfera contenciosa de hoje. O projeto foi anexado a uma crucial lei de gastos militares de US$ 662 bilhões.

Nos termos da legislação, Obama deve, no prazo de 180 dias, cortar o acesso aos Estados Unidos de qualquer instituição financeira pública ou privada que compre petróleo através do Banco Central do Irã. O objetivo é, efetivamente, fechar o Banco Central, privando o governo iraniano de obter financiamento para suas atividades nucleares.

Obama tem duas opções importantes em aberto: ele pode atrasar a execução das sanções se determinar que não há petróleo suficiente no mercado e pode isentar qualquer país que tenha "reduzido significativamente o seu volume de compras de petróleo do Irã". Oficiais do governo, buscando preservar a flexibilidade, disseram que não iriam quantificar o"significativamente".

Um teste inicial da abordagem do governo irá acontecer no final de fevereiro, quando a lei estabelece que o governo deve cortar laços com as instituições financeiras privadas que efetuem transações não petrolíferas com o Banco Central do Irã, exceto para a venda de alimentos, remédios e materiais médicos.

Com a Arábia Saudita se comprometendo a aumentar a produção e com a Líbia e o Iraque retomando sua linha de produção, Kirk disse que implementar as sanções de petróleo pode ser menos complicado do que parece. Mas a oposição do governo ao projeto original de sua legislação, segundo ele, desmentiu as ameaças do presidente para o regime iraniano.

"Essa tem sido uma estranha jornada política para o presidente porque ele disse que seria duro com o Irã", disse Kirk.

Fonte: Último Segundo

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