No Espírito Santo, à primeira vista, nada é o que parece ser. No mapa, o menor Estado do Sudeste pode dar a impressão de ser apenas um pit stop para turistas fluminenses que seguem, numa viagem de carro, para o litoral sul da Bahia. Ou um celebrado destino para os mineiros em busca de mar. Mas há o que fazer por lá que não seja pegar sol e comer a famosa moqueca capixaba, que no Estado não leva dendê. Felizmente, o visitante pode constatar que existem outros lugares onde o Espírito Santo vai além dessa primeira impressão, como a Serra Capixaba, região colonizada por alemães e italianos.
A cerca de uma hora de carro da capital, Vitória, ou quatro horas de trem desde Viana, a Serra Capixaba é uma região de ar puro, clima sossegado e friozinho à noite, que esconde um bocado de surpresas em pequenas e pacatas cidades, como Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante, Santa Teresa, Santa Leopoldina e Vargem Alta.
Nelas, é possível admirar paisagens com cachoeiras e pedras que mudam de cor, provar comida italiana preparada com muita sofisticação em restaurantes camuflados de simplicidade, visitar fazendas, jogar golfe e relaxar em meio à natureza.
Na volta para a cidade de origem, o visitante vai sentir que valeu a pena apostar nesta viagem, que certamente mostrará como um Estado discreto e “espremido” entre outros tão badalados (Rio de Janeiro, Minas e Bahia) também tem atrações para lá de cativantes.
Trem das Montanhas
Para conhecer a beleza, a tranquilidade e os prazeres das cidades serranas do Espírito Santo é possível fazer o caminho por uma via ferroviária, reativada em 2010 pela empresa Serra Verde Express. A mesma empresa que realiza tours de trem na Serra do Mar, no Paraná. Em trilhos capixabas, o grupo opera o Trem das Montanhas, passeio com duração de quatro horas feito a bordo de uma litorina, composição de um vagão com capacidade para 56 pessoas.
Nos fins de semana, a litorina serpenteia por entre pontes, viadutos e túneis, em um trajeto que parte da Estação Ferroviária de Viana e exibe montanhas verdejantes onde, vez por outra, surge uma cachoeira. Com paredes amarelas e adornos na fachada, a Estação de Viana, construída em 1895, mantém o jeitinho de antigamente: ali até pode ser vista uma sala com equipamentos que já foram usados no tempo em que funcionava a ferrovia que ligava o Estado ao Rio de Janeiro.
A primeira parada do trem é em Domingos Martins, principal cidade da região serrana. Em frente à pequena e bem cuidada praça central, há uma igreja luterana cuja torre é um marco da generosidade do imperador D. Pedro II para com os imigrantes: foi a primeira construída em um templo protestante no Brasil, graças a uma autorização especial do monarca. Torres, no século 19, eram exclusividade das igrejas católicas.
Ao lado da cidade, numa área chamada Campinho, 300 mil m2 de mata atlântica são protegidos na Reserva Kautsky, pertencente ao instituto fundado pelo já falecido empresário e colecionador de orquídeas Roberto Kautsky. Dificilmente, alguém pesquisou e coletou tantas orquídeas quanto Kautsky, que foi ajudado pelo clima da região serrana: a variação entre o nível do mar e a serra contribuiu para que a flor se tornasse comum por ali e se desenvolvesse em diversos tipos.
A reserva apresenta orquídeas, bromélias e um caminho de terra para admirá-las, bem como vistas da serra e do litoral que ficou para trás. Com sorte e atenção, além dos pássaros, o visitante avista algum macaquinho. E, com o ar puro e o verde ao redor, sai revigorado para continuar o tour.
Primeiros alemães
A segunda parada do Trem das Montanhas é em Marechal Floriano, também intimamente ligada à imigração alemã e ao “culto” às orquídeas. A cidade foi o primeiro núcleo de colonização germânica no interior do Espírito Santo, como mostram as fachadas de algumas casas e o restaurante Grossmutter, com especialidades da gastronomia alemã e receitas suíças e húngaras.
Pratos com carne de carneiro, costeletas de porco, salsichas, chucrute e galinha ao molho pardo são algumas das delícias da casa, que podem ser acompanhadas pela tradicional cerveja alemã Weltenburger Kloster. Tudo levado à mesa por garçonetes vestidas em trajes típicos. É comida para aqueles que não estão preocupados com a dieta, e sim em saírem satisfeitos e alimentados com “sustança”.
Guarde a delicadeza para visitar os orquidários de Marechal Floriano: o Florabela e o Nego Plantas. Neste último, o dono, que, apesar do apelido que deu nome ao estabelecimento, também é descendente de alemães e se chama Vital Schunk, montou um museuzinho informal nos fundos do orquidário. Nele, expõe fotos, máquinas de costura e outros objetos dos primeiros alemães que chegaram à cidade.
A cerca de uma hora de carro da capital, Vitória, ou quatro horas de trem desde Viana, a Serra Capixaba é uma região de ar puro, clima sossegado e friozinho à noite, que esconde um bocado de surpresas em pequenas e pacatas cidades, como Domingos Martins, Venda Nova do Imigrante, Santa Teresa, Santa Leopoldina e Vargem Alta.
Nelas, é possível admirar paisagens com cachoeiras e pedras que mudam de cor, provar comida italiana preparada com muita sofisticação em restaurantes camuflados de simplicidade, visitar fazendas, jogar golfe e relaxar em meio à natureza.
Na volta para a cidade de origem, o visitante vai sentir que valeu a pena apostar nesta viagem, que certamente mostrará como um Estado discreto e “espremido” entre outros tão badalados (Rio de Janeiro, Minas e Bahia) também tem atrações para lá de cativantes.
Trem das Montanhas
Para conhecer a beleza, a tranquilidade e os prazeres das cidades serranas do Espírito Santo é possível fazer o caminho por uma via ferroviária, reativada em 2010 pela empresa Serra Verde Express. A mesma empresa que realiza tours de trem na Serra do Mar, no Paraná. Em trilhos capixabas, o grupo opera o Trem das Montanhas, passeio com duração de quatro horas feito a bordo de uma litorina, composição de um vagão com capacidade para 56 pessoas.
Nos fins de semana, a litorina serpenteia por entre pontes, viadutos e túneis, em um trajeto que parte da Estação Ferroviária de Viana e exibe montanhas verdejantes onde, vez por outra, surge uma cachoeira. Com paredes amarelas e adornos na fachada, a Estação de Viana, construída em 1895, mantém o jeitinho de antigamente: ali até pode ser vista uma sala com equipamentos que já foram usados no tempo em que funcionava a ferrovia que ligava o Estado ao Rio de Janeiro.
A primeira parada do trem é em Domingos Martins, principal cidade da região serrana. Em frente à pequena e bem cuidada praça central, há uma igreja luterana cuja torre é um marco da generosidade do imperador D. Pedro II para com os imigrantes: foi a primeira construída em um templo protestante no Brasil, graças a uma autorização especial do monarca. Torres, no século 19, eram exclusividade das igrejas católicas.
Ao lado da cidade, numa área chamada Campinho, 300 mil m2 de mata atlântica são protegidos na Reserva Kautsky, pertencente ao instituto fundado pelo já falecido empresário e colecionador de orquídeas Roberto Kautsky. Dificilmente, alguém pesquisou e coletou tantas orquídeas quanto Kautsky, que foi ajudado pelo clima da região serrana: a variação entre o nível do mar e a serra contribuiu para que a flor se tornasse comum por ali e se desenvolvesse em diversos tipos.
A reserva apresenta orquídeas, bromélias e um caminho de terra para admirá-las, bem como vistas da serra e do litoral que ficou para trás. Com sorte e atenção, além dos pássaros, o visitante avista algum macaquinho. E, com o ar puro e o verde ao redor, sai revigorado para continuar o tour.
Primeiros alemães
A segunda parada do Trem das Montanhas é em Marechal Floriano, também intimamente ligada à imigração alemã e ao “culto” às orquídeas. A cidade foi o primeiro núcleo de colonização germânica no interior do Espírito Santo, como mostram as fachadas de algumas casas e o restaurante Grossmutter, com especialidades da gastronomia alemã e receitas suíças e húngaras.
Pratos com carne de carneiro, costeletas de porco, salsichas, chucrute e galinha ao molho pardo são algumas das delícias da casa, que podem ser acompanhadas pela tradicional cerveja alemã Weltenburger Kloster. Tudo levado à mesa por garçonetes vestidas em trajes típicos. É comida para aqueles que não estão preocupados com a dieta, e sim em saírem satisfeitos e alimentados com “sustança”.
Guarde a delicadeza para visitar os orquidários de Marechal Floriano: o Florabela e o Nego Plantas. Neste último, o dono, que, apesar do apelido que deu nome ao estabelecimento, também é descendente de alemães e se chama Vital Schunk, montou um museuzinho informal nos fundos do orquidário. Nele, expõe fotos, máquinas de costura e outros objetos dos primeiros alemães que chegaram à cidade.
O passeio termina em outra estação de paredes amarelo-ocre: a situada em Araguaia, distrito de Marechal Floriano. A vilazinha com cerca de 700 habitantes era o ponto final da viagem dos imigrantes italianos que também povoaram a Serra Capixaba, os quais entravam no Estado a partir do Rio Benevente, na cidade litorânea de Anchieta (onde morreu o padre jesuíta que foi um dos fundadores de São Paulo). O visitante descobre como eles viviam, se adaptaram à região e se vestiam na Casa Rosa, construção do século 19 que mantém estrutura, mobília e vestimentas do tempo em que foi erguida.
Roteiro de carro
O Trem das Montanhas é um jeito de explorar a serra de uma vez só. Mas que tal alongar a estada conhecendo outras cidades e sentindo o friozinho agradável que faz praticamente o ano todo? Esse é um roteiro perfeito para ser feito de carro, graças à pouca distância entre as cidades e à rede de estradas federais e estaduais que as liga.
Saindo de Vitória pela BR-262, alcança-se Campinho em menos de uma hora e, logo depois, Marechal Floriano. Em seguida, há uma decisão a tomar: virar à direita, na ES-376, em direção a Alfredo Chaves, ou seguir para Venda Nova do Imigrante, última cidade cortada pela rodovia antes de se chegar a Minas.
Na primeira opção, o caminho também leva a Matilde, um vilarejo minúsculo com outra bonita estação de trem que remonta ao tempo em que esse meio de transporte ligava o sul do Espírito Santo ao Rio. O trajeto permite contemplar a Cachoeira do Engenheiro Reeve, dona de uma queda- d’água de 63 metros, a maior do Estado. O lugar é procurado, ainda, pelos praticantes de voo livre e parapente, por causa de uma rampa a 465 metros de altura, localizada no distrito de Cachoeira Alta.
Pedra Azul e outras cores
Seguindo em frente pela BR-262, novamente vale a tese apresentada no começo desta reportagem: no Espírito Santo, nada é exatamente o que parece. É o caso de uma pedra enorme, na qual parece subir um lagarto gigante, que fica na chegada a Venda Nova do Imigrante.
Eis a Pedra Azul, cuja superfície é recoberta por liquens, que lhe garantem a tonalidade que deu origem ao seu nome. A ação dos tais liquens, com a incidência de raios solares, ainda faz a enorme rocha mudar de cor. Ou seja, a pedra não é só azul. E o lagarto também é um “monumento” à parte, e tem o nome de Pedra do Lagarto, é claro.
A Pedra Azul está ligada à imagem turística de Venda Nova – apesar de ficar no território de Domingos Martins, a formação domina sobretudo a paisagem da primeira cidade. À sua volta, existe um parque que preserva a mata atlântica, aberto para passeios que levam até a pedra. A área também guarda mansões e fazendas cujo conforto surpreende quem liga vida rural a rusticidade.
As propriedades rurais podem ser visitadas no circuito de agroturismo da cidade. É chegar, pedir para entrar e muitas vezes sair desses lugares com produtos comprados dos moradores, como geleias, doces e o excêntrico vinho de jabuticaba, um substituto do vinho de uva que os imigrantes italianos improvisaram ao chegar ao Espírito Santo. Tome como se fosse um licor, sem exagero, caso contrário, a dor de cabeça no dia seguinte será inesquecível.
Café do cocô do jacu
O café orgânico e artesanal feito pelas famílias da cidade, como a Carnielli, também tem um sabor especial e marcante. Mas nada pode ser mais diferente – e caro – do que o pacote de café vendido a “módicos” R$ 400, o quilo, no Posto dos Morangos, uma delicatessen na altura do quilômetro 93 da BR-262. Do outro lado da rodovia, na Fazenda Camocim, dá para comprar o produto por um preço um pouco mais baixo, mas não muito.
O que há de tão precioso nesse café, cuja produção é quase toda exportada para Japão e Estados Unidos, é que, bem, seus grãos foram retirados do cocô expelido por um pássaro. E como é que o quilo desse inusitado produto vale tanto quanto uma garrafa de vinho de primeira linha? Vamos ao processo...
O Jacu Bird Coffee, nome da marca desse café, é feito com grãos da variedade arábica, que foram deglutidos e depois eliminados, por meio do método mais tradicional possível, pelo jacu, um pássaro de penas negras e papo vermelho, do tamanho de uma galinha.
Na Fazenda Camocim, essa técnica, ao contrário do que se poderia supor, enriquece o café. Os grãos que, perdoem o trocadilho, saem da última sílaba do nome do pássaro são postos para secar e depois moídos, resultando num pó que origina uma bebida forte, doce e encorpada, cujo quilo vale de R$ 380 a R$ 450, segundo Henrique Sloper, proprietário da fazenda. “O Jacu Bird Coffee é uma expressão dos grãos em seu ponto ideal de maturação. Quem bebe, sente um sabor doce e suave, com baixa acidez, e aromas de chocolate e nozes”, descreve Sloper.
Especialistas em café vão associar o método brasileiro a um da Indonésia, onde se faz o Kopi Luwak, este sim, o mais caro café do mundo, cujos grãos são extraídos das fezes do luwak, um marsupial do país. E foi justamente numa ida à Indonésia que Henrique Sloper provou o Kopi Luwak e teve a ideia de nacionalizar a técnica, originando o produto capixaba.
Bons hotéis e restaurantes
O Jacu Bird Coffee também é vendido no Rabo do Lagarto, um hotel-butique no entorno do Parque da Pedra Azul, ainda em Domingos Martins. Com um bistrô, edredons de pena de ganso, 14 das suas 18 suítes equipadas com lareira (há outra no salão do restaurante) e uma deslumbrante vista da Pedra Azul acessível de todas as acomodações, o Rabo do Lagarto é um bom ponto também para observadores de pássaros, os quais podem contemplar gaviões, tucanos, canários e tiês.
Ainda nas imediações da Pedra Azul, na estrada em direção à cidade de Vargem Alta, há uma área para a prática de outra atividade que, aos poucos, ganha adeptos no Brasil: um campo de golfe, construído no Hotel Fazenda Monte Verde, outro bom lugar para passar a noite. São apenas nove buracos, mas, por conta de obstáculos como laguinhos, montes de areia e arbustos, completar o circuito fica mais difícil do que parece à primeira vista.
Como a história da imigração europeia e a agricultura familiar são as principais marcas das montanhas capixabas, tais traços seguem presentes também à mesa de alguns restaurantes da região. O Valsugana e o Espaço Vellozia, praticamente vizinhos e próximos da Pedra Azul, aproveitam produtos comprados dos fazendeiros das redondezas para oferecer dois cardápios bem diferentes.
No Vellozia, as receitas de inspiração francesa levam, por exemplo, legumes e frango caipira, misturados a iguarias modernas, como no caso da codorna desossada que, combinada com cereais, trufas e mandioquinha. No Valsugana, a especialidade são os pratos do norte da Itália. Nos dois, há um estoque sortido de vinhos importados para acompanhar as refeições.
A cozinha francesa também dá o tom na Brasserie Apogeu e no restaurante Metropolitain. Ambos ficam junto à Chez Domaine, pousada criada pela francesa Isabelle Cicatelli e seu marido, Joaquim Silva, com o objetivo de aproveitar ao máximo a natureza e a agricultura familiar da região. “A ideia de Isabelle foi reunir em um só lugar a produção de alimentos orgânicos e biodinâmicos certificados, da semente ao prato, e com uma variedade que pudesse atender aos hóspedes e aos visitantes”, explica Silva.
Outro bom restaurante está nas terras de uma das famílias de imigrantes mais antigas de Venda Nova – a qual, por conta das mudanças que seu sobrenome sofreu nas mãos de diferentes tabeliães, que iam registrando os filhos nascidos no Brasil, é hoje dividida entre Lorençon, Lorenzon, Lourenção e Lorenzoni. O restaurante acabou ficando com o nome de Don Lorenzoni e é um pequeno e acolhedor estabelecimento montado em um antigo paiol de fazenda, decorado com objetos que lembram a história da família.
A cozinha é chefiada por Fernando Lorenzoni, que, depois de passar por restaurantes da Europa e dos Estados Unidos, voltou ao Brasil para abrir a casa, dando aos pratos típicos dos imigrantes, como o socol e a polenta, uma “roupagem” gastronômica moderna.
Encontrar lugares rodeado pela paz da mata atlântica, pela rotina tranquila dos sítios, por formações rochosas monumentais e até por um valioso café “extraído” das fezes de um pássaro, é confirmar, de uma vez por todas, que o Espírito Santo vai muito além da primeira impressão, que, no turismo, passa pelo tripé sol, praia e moqueca. E esta viagem pela Serra Capixaba, feita de carro ou a bordo do Trem das Montanhas, pode ser o primeiro saboroso aperitivo, no sentido literal, das belezas que o Estado esconde.
Fonte: Viaje
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