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segunda-feira, 2 de janeiro de 2012

As duas caras do dinheiro em 2012

As incertezas no Brasil e na Europa criam duas expectativas radicalmente diferentes para a economia. O ano novo será bom – ou terrível



De todos os assuntos que nos ocuparão em 2012 – da Olimpíada de Londres às eleições municipais; da conferência ecológica Rio+20 ao fim do mundo segundo o calendário maia –, um se destaca como a maior incógnita, maior preocupação e maior foco de apostas: a economia. O ano que vem pode ser, como o suculento 2007 (quando o Brasil bateu recorde de criação de vagas e cresceu mais de 5%), um ano de novos empregos, facilidade para abrir negócios, disputar aumentos, poupar, investir e comprar. Ou pode se transformar num ano de calamidades financeiras, medo generalizado de demissões, alta inflacionária e contenção nos investimentos, como o péssimo 2009 (quando o Brasil não cresceu nada). Falar nas perspectivas para 2012 é, acima de tudo, falar nas dúvidas sobre a economia.

Pois 2012 começa sem uma cara definida, ou melhor, com duas caras bem definidas, mas estranhamente afastadas uma da outra, quase opostas, sem meio-termo possível. A maioria dos que precisam fazer “apostas” altas, como empresas decidindo se compram mais máquinas ou contratam mais gente, acredita que o ano novo merecerá uma honesta nota seis – ou algo perto de um rotundo zero. Para elas, 2012 será um ano bom ou um ano péssimo. Se for de um jeito para as empresas, tende a ser desse mesmo jeito para a maioria dos brasileiros. A fim de sentir a temperatura das expectativas para 2012, ÉPOCA resolveu este ano ouvir um grupo eclético, formado por 24 dirigentes empresariais das companhias e dos setores mais relevantes do Brasil, do agronegócio aos serviços tecnológicos, do petróleo aos grandes bancos (leia os depoimentos).

Querendo ou não, todos fazemos apostas ao tomar decisões como confiar ou não na permanência no emprego, poupar mais ou menos, contrair ou não uma dívida. Os próximos 12 meses podem ser sacudidos por uma infinidade de fatores, incluindo aqueles quase impossíveis de imaginar de antemão, como um novo ataque terrorista a uma grande cidade. Ou um terremoto que gera um tsunami que gera um desastre nuclear. Eventos assim, inimaginados até que se tornem reais, são chamados de “cisnes negros” pelo financista e pesquisador americano Nassim Taleb. Cisnes negros à parte, o que tornaria o ano novo tranquilo para seu bolso – um ano nota seis – depende, principalmente, do que for acontecer na Europa. Se os países do euro entrarem numa recessão apenas leve e derem ao mundo algum vislumbre de como pagarão suas dívidas, manterão seus bancos funcionando, permanecerão juntos na união monetária e voltarão a crescer no futuro, toda a economia mundial respirará aliviada. Eles nem precisariam de um plano pronto em detalhes, apenas de uma estratégia coerente que apontasse uma solução futura para seus problemas. No momento, ela não existe.

O que tornaria 2012 péssimo para seu bolso – um ano com nota perto de zero – e criaria um ambiente difícil para as decisões de trabalho, empreendimento, gasto e poupança é um cenário de catástrofe na Europa: se os países do euro entrarem em recessão profunda e não oferecerem uma solução para seus problemas antes que um grande banco quebre ou um grande país europeu dê calote. A Itália corre esse risco já no primeiro trimestre. Um cataclismo econômico assim reduziria o mercado global para os produtos que o Brasil exporta, secaria o crédito primeiro nos bancos de lá e depois nos daqui (efeito em cadeia já sentido em 2008), congelaria projetos e contratações país afora e cortaria o volume dos investimentos estrangeiros de que precisamos para crescer e equilibrar nossas contas com o resto do mundo.



Até outubro, havia temores mais difundidos também a respeito dos Estados Unidos, que poderiam cair de volta numa recessão, e da China, que poderia desacelerar mais rapidamente que o desejado. Ambos os receios se tornaram menores nas últimas semanas, em comparação com a catástrofe que paira sobre a Europa. Os Estados Unidos parecem se recuperar lenta, mas continuamente. O governo chinês se empenhará em manter o ritmo de crescimento, prejudicado pela parada da economia europeia. “A China pisou muito no acelerador com os investimentos em infraestrutura e no setor imobiliário, então há uma preocupação geral de como vai ser feita essa desaceleração. Mas ela parece estar sendo suave”, afirma Arminio Fraga, da Gávea Investimentos, ex-presidente do Banco Central (BC) e bom conhecedor do tema (Fraga foi conselheiro do CIC, fundo de investimento do governo chinês).

De modo simplificado, há uns 60% de chance de o ano ser bom – e 40% de que ele seja péssimo. “Mas a probabilidade deste último cenário é crescente relativamente à do primeiro”, diz o economista Roberto Macedo, doutor pela Universidade Harvard. A consultoria LCA atribuiu valores aos dois cenários. No bom, que a LCA também considera mais provável, o PIB da Europa encolheria 0,2% – e do Brasil cresceria 3,1%. Seria um avanço aquém do potencial do país, mas bastaria para manter o bom ritmo do mercado de trabalho. Num ano assim, o desemprego se manteria próximo do nível atual, historicamente baixo, e o país abriria ao menos 1,5 milhão de novas vagas de trabalho (foram 2,5 milhões em 2010 e cerca de 1,9 milhão em 2011), de acordo com estimativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Federação do Comércio de São Paulo. Mas é impossível descartar o cenário péssimo, mesmo que ele seja menos provável.

Na versão sombria de 2012, a Europa encolheria 3% – e o Brasil também, perto de 0,7%, de acordo com a LCA. O desemprego cresceria, e o período seria ruim para conseguir aumento ou abrir um negócio próprio. A inflação e os juros poderiam cair mais rapidamente, mas o custo seria alto. E por que, em vez de se encaixar num desses cenários extremos, a Europa não poderia continuar a empurrar seus problemas para a frente sem resolvê-los, como faz há meses? “É difícil caminhar tanto tempo na beira do abismo”, diz Fernando Sampaio, diretor e sócio da LCA. “O medo do mercado de que algo ruim aconteça, como um calote, tende a levar ao pior, a não ser que surja uma solução. A situação na Europa tende a ser forçada para um lado ou outro.”

Paralelamente ao agravamento da situação na Europa, o pessimismo no Brasil cresceu, desde que se constatou que a economia ficou estagnada no terceiro trimestre. Não se pode dizer que isso tenha ocorrido por uma atuação dura demais do Banco Central, para congelar a economia e conter a inflação. O aumento de preços deverá ficar acima da meta inflacionária tolerável, de 6,5%. Entre os 26 países que adotam metas de inflação, somente três (Turquia, Sérvia e Gana) são mais tolerantes que o Brasil e têm tetos superiores neste momento. Nações importantes em nível de desenvolvimento similar ao nosso, como México, Peru, Chile e Indonésia, adotam limites menores, mais rigorosos. Em 2012, é importante que a inflação seja colocada no rumo certo, para os 4,5% e abaixo disso. “A Argentina se acostumou com inflação alta e reprimida, mas caminha sobre gelo muito fino. Será que o Brasil caminha para isso? É um medo que tenho”, diz o economista Gustavo Franco, da Rio Bravo, ex-presidente do BC.

No momento, a previsão é que a inflação volte a recuar, mais lentamente que o ideal, e que a atividade acelere de novo, em algum momento entre dezembro e junho. Mas a confiança dos empresários da indústria, consultados pela CNI, está bem inferior à registrada no início de 2011. Juros altos, dólar barato (que barateia os importados), concorrência chinesa e aumentos de salários e insumos esfriaram o ânimo do setor. Empresários e altos executivos são gente otimista por natureza e dever profissional – é impossível criar e expandir negócios sem uma visão empolgada com o futuro. Neste momento, porém, é notável a diferença de tom entre dois grupos. De um lado, os preocupados dirigentes da indústria – de Frederico Curado, da Embraer, a Claudio Bergamo, da Hypermarcas –, que sofrem com os problemas mencionados. Eles precisam planejar investimentos com horizontes mais longos, proeza difícil num momento em que a Europa torna o futuro completamente nublado. Vários deles também sentem o impacto do empobrecimento nos países ricos, na dificuldade de exportar para lá. E há o outro grupo, para quem a Europa parece tão distante quanto a Lua.

Os dirigentes das empresas de comércio e serviços se mostram muito mais otimistas. Eles se dedicam a suprir as demandas do consumo interno, ainda crescendo no embalo do aumento de renda e crédito do brasileiro nos últimos anos. David Neeleman, da Azul Linhas Aéreas, acredita que o número de passagens vendidas crescerá de 9 milhões este ano para 14 milhões no próximo. Alberto Saraiva, do Habib’s, calcula que a rede ganhará 45 novos restaurantes em 2012. “Pode ser um dos melhores anos da nossa história”, diz Saraiva. Mas, em seguida, faz a ressalva. “Estou falando do varejo, dos negócios que dependem só do mercado interno, das empresas que vendem para a classe C. Para a indústria, para quem depende do cenário global, a história é outra.”

As análises feitas pelos empresários e executivos servem como sugestões e alertas lúcidos em diversos assuntos. José Sergio Gabrielli, presidente da Petrobras, celebra as encomendas de sua companhia para explorar o pré-sal, detalhadas para os próximos quatro anos. Elas podem beneficiar cerca de 255 mil empresas. Mas ele mesmo pondera que esse universo de fornecedores precisa diversificar as atividades e os clientes, em vez de apostar tudo apenas no futuro do petróleo. Joesley Batista, presidente do grupo J&F (de que faz parte a produtora de carnes JBS), diz que o Brasil desfrutará um período de imigração de bons profissionais europeus fugindo de mercados de trabalho ruins. Laércio Cosentino, da Totvs, maior desenvolvedora de software do país, não reclama da alta de salários no setor, mas lembra: o enriquecimento de um país só é real quando, além da remuneração, cresce também a produtividade, amparada em educação, qualificação e boas práticas empresariais.

Ideias assim mostram que podemos avançar muito, como sociedade, seja qual for o rosto de 2012.



Fonte: Época

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